BRINQUEDOTECA HOSPITALAR: O LÚDICO EM UM NOVO CONTEXTO.
Bolsista:
Andriéle Santos Moleta
Orientadora:
Profª Ms Cintia Andréa Dornelles Teixeira
Projeto Pedagogia Hospitalar: um espaço para construção do conhecimento
As brinquedotecas começaram a surgir no Brasil a partir dos anos 80. Ela é um espaço criado com objetivo de proporcionar estímulos para que a criança possa brincar livremente, ampliando assim, o seu desenvolvimento emocional, cognitivo, psíquico físico, social e psicomotor. Neste contexto, a brinquedoteca tem por implicação a valorização da atividade lúdica, sabendo ser esta uma necessidade para a formação efetiva da criança. O lúdico visa ampliar o conhecimento do ser humano de forma prazerosa e significativa, tornando a atividade atrativa e interessante, não somente na infância. O desenvolvimento do ser humano é um processo complexo e contínuo, que precisa receber estímulos para aperfeiçoar-se e evoluir. Desde que somos concebidos recebemos influências externas que são fundamentais para a formação humana, estas podem ser positivas ou não, depende do meio social que pertencemos. Nesse sentido complementa SANTOS (p. 08, 2001): Aos dois meses, o feto é capaz de perceber o mundo fora do útero, começando a ter as primeiras sensações táteis e a sentir o contato da mãe. Ansiedade, nervosismo, depressão, amor e carinho são transmitidos através dos hormônios. Portanto, toda a situação emocional da mãe atinge diretamente o feto. Sabendo da importância dos estímulos no desenvolvimento do ser humano, onde o brincar faz parte da vida e é fundamental para potencializar a mente humana, pois, o cérebro do homem é constituído pelo hemisfério esquerdo e direito. Sendo o esquerdo responsável pela razão, é o lado crítico, investigador e disciplinado. Já o lado direito é predominado pela emoção, quando este lado é utilizado a pessoa inova, estabelece conceitos, brinca, experimenta e interage. Ambos os hemisférios são importantes, tanto o lado direito quanto o esquerdo, eles não funcionam isoladamente, afinal o homem busca um equilíbrio entre a razão e a emoção. Porém, o ser humano usa muito pouco o lado direito responsável pela emoção, pelo prazer que são fundamentais para a ludicidade fluir naturalmente. Percebendo a extrema importância do lúdico no desenvolvimento do ser humano e sabendo da rápida transformação da sociedade no contexto atual, a ludicidade vem ganhando espaço, pois cada vez mais busca-se a equilibração entre razão e emoção. O lúdico é uma nova ciência que vem ganhando força e admiradores na atualidade, porém a educação, por via da ludicidade, propõe uma nova postura e preparação dos profissionais, pois se faz necessário um aprofundamento para ter-se compreensão e clareza do que se quer atingir. Tendo em vista a importância do lúdico no desenvolvimento humano, e sabendo que a ludicidade deve estar presente desde o inicio da vida, somando-se a isto o sofrimento de uma criança que precisa ficar internada em um leito de hospital, surge a brinquedoteca no ambiente hospitalar, visando sanar um pouco a dor das crianças internadas. Pois como diz SANTOS (p. 21, 1997): Brinquedoteca é um espaço para brincar. Não é preciso mais objetivos, é preciso valorizar a ação da criança que brinca, é preciso transcender o visível e pressentir a seriedade do fenômeno. Se a relação entre o brinquedista e as crianças forem corretas, se tiverem a dimensão que podem e devem ter, resultados surpreendentes irão acontecer. A atividade lúdica vem ganhando reconhecimento em espaços diversos, um deles é o ambiente hospitalar, pois a pessoa internada seja criança ou não, está frágil e precisa de uma motivação para tentar contornar a situação vivenciada. Através da brincadeira, do jogo, a pessoa se descontrai, sorri, cria e inova, esquecendo, por alguns instantes, da dor que está vivenciando, pois “o lazer é um aspecto e uma maneira de realização do homem, completando sua vida, sendo essencial para sua plenitude e desenvolvimento.” (Santos p.88, 2001). Pensando e sabendo da importância da brinquedoteca na vida de uma criança e associando este espaço de prazer com um ambiente nem tão agradável assim, como o ambiente hospitalar, criamos o Projeto Pedagogia Hospitalar: um espaço para construção do conhecimento, cuja proposta tem como objetivo maior ampliar o espaço de atuação do Pedagogo para além do espaço escolar, articulando a formação profissional à construção do conhecimento propostos pelos objetivos de ensino, pesquisa extensão universitária através da prestação de serviços à comunidade hospitalar do Hospital de Caridade de Santiago – HCS. A criança internada esta debilitada física e emocionalmente, pois teve que deixar à família, os amigos, a escola para ficar em um local estranho a sua rotina habitual. Nesse sentido, a brinquedoteca hospitalar visa sanar um pouco a dor desta criança internada, proporcionando-a momentos de alegria, descontração, prazer e conhecimento, através da socialização com outras crianças na mesma situação, na construção de jogos educativos referentes à sua faixa etária, na leitura de histórias e brincadeiras livres. Afinal, “o brincar representa um fator de grande importância na socialização da criança, pois é brincando que o ser humano se torna apto a viver numa ordem social e num mundo culturalmente simbólico.” (Santos p. 79, 2001). O Pedagogo está ampliando cada vez mais seu campo de atuação, deixando de limitar-se somente ao ambiente escolar. A Pedagogia engloba diversas áreas do conhecimento, trabalhando em conjunto com outras dimensões educativas, tendo como objetivo maior a qualidade na educação. Portanto, e devido a isso, o pedagogo esta expandindo seu campo de trabalho proporcionando novos espaços educativos. Afinal, a educação não ocorre somente na escola, ela existe em vários setores da sociedade desde o momento que o individuo nasce. Com isso, é preciso sonhar e buscar novos horizontes, almejar novos ideais, visando uma educação humanizadora em diferentes contextos sociais. Essa idéia pode ser complementada com a fala de FREIRE (p. 29, 2001): Sonhar é imaginar horizontes de possibilidades; sonhar coletivamente é assumir a luta pela construção das condições de possibilidade. A capacidade de sonhar coletivamente, quando assumida na opção pela vivência da radicalidade de um sonho comum, constitui atitude de formação que orienta-se não apenas por acreditar que as situações-limite podem ser modificadas, mas fundamentalmente, por acreditar que essa mudança se constrói constante e coletivamente no exercício critico de desvelamento dos temas-problemas sociais que as condicionam. O ato de sonhar coletivamente, na dialeticidade da denuncia e do anuncio e na assunção do compromisso com a construção dessa superação, carrega em si um importante potencial (trans) formador que produz e é produzido pelo inédito viável, visto que o impossível se faz transitório na medida em que assumimos coletivamente a autoria dos sonhos possíveis. Nesse sentido, o Projeto pedagogia Hospitalar: um espaço para a construção do conhecimento tornou-se um sonho possível. Um espaço que foi conquistado e está se fortalecendo dentro do ambiente hospitalar, com coragem e determinação, visando um ideal e com trabalho em conjunto é possível mudar a educação e levá-la cada vez mais a diferentes contextos. Concomitante a isso, uma educação lúdica e humanizadora, onde haja interação, troca, carinho e ampliação do conhecimento intelectual e emocional, este novo campo de atuação do pedagogo tem tudo para ampliar-se e proporcionar muitas aprendizagens significativas para organizadores e participantes. Afinal, a alegria, a magia, o encanto estarão sempre norteando, não somente as crianças, mas todos aqueles que considerem e acreditam que o lúdico sinaliza um mundo melhor, mais colorido e mais humano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• SANTOS, Santa Marli pires dos. A ludicidade como ciência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
• SANTOS, Santa Marli pires dos. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
• FREIRE, Paulo. FREIRE, Ana Maria Araújo. Pedagogia dos Sonhos Possiveis. São Paulo: editora UNESP, 2001
"Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade."
Paulo Freire.