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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Brinquedotecas hospitalares, sua análise em função de critérios de qualidade

Karin Gerlach DietzI, 1; Vera Barros de OliveiraII, 2

Este estudo realiza o levantamento e análise por controle de qualidade das brinquedotecas hospitalares, públicas e particulares, identificadas nas unidades de saúde de um município da Grande São Paulo, com base na Carta de Qualidade das Brinquedotecas Francesas, adotada pela Associação Brasileira de Brinquedotecas. Esta verificação responde a uma exigência legal, em nível nacional, que obriga os hospitais que atendem crianças em regime de internação, a instalarem-nas. Os resultados constatam a existência de 19 Unidades de Saúde com internação pediátrica, sendo sete públicas e 12 particulares, das quais apenas duas possuem brinquedotecas, uma em unidade pública e outra, em particular. Os dados obtidos em ambas por meio do questionário auto-avaliativo respondido pelos responsáveis, seguido de entrevista semidirigida com eles, indicam aspectos positivos nos itens relativos aos serviços oferecidos por elas e à acolhida da clientela, inclusive das famílias, porém aspectos insatisfatórios em relação ao planejamento e funcionamento, à definição clara de seus fins e meios, à formação profissional da equipe e à obtenção de parcerias para seu suporte financeiro. A pesquisa aponta a grande necessidade de implantação dessas unidades, bem planejadas e operacionalizadas.

This paper tracks and makes a quality analysis of the hospital toy libraries, both private and public, found in the health-care units. The analysis is conducted based on the French Toy Libraries Quality Chart, which is the document used by the Brazilian Toy Library Association. The verification in this study attends to legal demands on a national level, which oblige the hospitals with paediatric admittance units to host a toy library. This study verifies that out of 19 Health-Care Units with paediatric admittance, 7 public and 12 private, only two house toy libraries; one public and one private. Data obtained in both toy libraries by means of an auto-evaluative questionnaire filled by the people in charge, followed by semi-directed interview, indicates positive aspects regarding the services offered by the toy library and the clients’ response, including the families, but it also indicates unsatisfactory aspects pertaining to: the organization prior to the toy library’s setting up, the clear definition of the toy library’s objectives and means, the professional qualification of the staff and also to the formation of partnerships for financial and material support. This research points out the great need for the setting up of wellplanned and operational toy libraries.




Caracterizando-se pelo predomínio do prazer sobre o sofrimento, do relaxamento sobre a tensão e da espontaneidade sobre a submissão à coerção, o brincar torna-se extremamente relevante em momentos críticos, nos quais age como fonte e suporte de adaptação ao contexto vivido (Oliveira, 1998). A forma de expressar o sofrimento é muito pessoal e está vinculada à estruturação mental do sujeito, construída em seu contexto sóciocultural, mantendo uma face muito particular, relativa à sua maneira de compreender e sentir o que está se passando consigo (Oliveira, 2006). Nesse sentido, a forma como uma criança compreende e expressa seu sofrimento difere da de um adulto. Ainda incapaz de transpor toda a sua experiência sobre o que está sentindo para o campo verbal, ela encontra, nas atividades lúdicas e plásticas, um canal que dá vazão a seu mundo interno, simbolicamente.
Como considera Lindquist (1993 e 1998), quando relata sua experiência pioneira com o brincar, já clássica entre nós, no Departamento de Pediatria do Hospital Universitário de Umeo, na Suécia: Muitas crianças hospitalizadas não conseguem verbalizar seus desejos e necessidades. Na maioria das vezes, quando internadas no hospital, passam por um processo de sofrimento físico, o qual se amplia por um mal-estar psicológico, o que torna as crianças mais sensíveis e susceptíveis a sensações negativas. É importante, portanto,reconhecer sua capacidade de se exprimirem através de atividades lúdicas. Nesse mesmo sentido, Lenzi (1998) relata uma experiência em nosso meio sobre a Brinquedoteca na Divisão Pediátrica do Hospital Universitário de Santa Catarina, concluindo por ver no lúdico uma vivência estrutural, que ajuda a criança a superar o sofrimento da internação.
Estudos relativos ao planejamento e operacionalização de brinquedotecas hospitalares entre nós evidenciam pontos a serem melhorados. Assim, em estudo realizado em oito hospitais no Estado do Paraná (Teixeira de Paula, Gil & Marcon, 2002), constataram-se poucas brinquedotecas com caráter sistematizado em relação ao acervo lúdico, à forma de operacionalização e à ocupação dos espaços físicos, apesar de desenvolverem projetos artísticos, recreativos, culturais, educacionais e científicos envolvendo o brinquedo. Magalhães e Pontes (2002), por seu lado, apontam que o mau planejamento das atividades da brinquedoteca pode levá-la a um funcionamento improvisado, pois a ausência de um plano de trabalho, calcado em objetivos bem definidos e desenvolvido de acordo com os meios utilizados para tal, pode interferir no próprio papel designado para a brinquedoteca.


Em síntese, os dados coletados por meio da escala auto-avaliativa sobre a qualidade das brinquedotecas indicaram, na categoria Planejamento, uma pontuação mais elevada na brinquedoteca hospitalar privada, com maior definição de ações a serem realizadas com base em um plano prévio de trabalho. Quanto à categoria Operacionalização, os dados revelaram carência de suporte externo em ambas, as quais não identificaram possíveis parceiros que possam dar suporte a seu dia-a-dia, sendo que apenas o hospital particular possui alguns contatos com fabricantes e comerciantes de brinquedos, para possível doação e reposição de material lúdico qualificado. Em relação à categoria Equipe, sua formação e atuação, os resultados mostraram que as duas brinquedotecas não possuem responsável (brinquedista) assalariado, assim como não contam com número suficiente de pessoas (outros profissionais e voluntários) para desenvolver o trabalho necessário. Os dados indicaram que as pessoas que atuam nas brinquedotecas estudadas não possuem formação específica para tal, inclusive para classificar, manter e manipular os jogos e brinquedos. Contudo, ambas as brinquedotecas assinalaram que proporcionam boa acolhida aos familiares, assim como participam de projetos complementares que visam humanizar o ambiente hospitalar, como o dos Contadores de História. Em relação à categoria Acervo Lúdico, as respostas evidenciaram que ambas as brinquedotecas estão carentes e têm consciência da necessidade de ampliação e diversificação dos brinquedos.

As duas únicas brinquedotecas identificadas, uma de natureza pública e outra, particular, mostraram, contudo, em seu pioneirismo, um grande empenho em continuar atuando o melhor possível, mesmo sem contarem com profissionais qualificados e remunerados. Ao responderem à escala proposta, forneceram dados relevantes para a identificação de pontos positivos e negativos. De um lado, a entidade pública assinalou a ausência de um projeto que norteasse e organizasse as atividades. A importância de um planejamento prévio é destacada por estudiosos (Cunha, 2001; Magalhães & Pontes, 2002), que põem em evidência o quanto sua falta compromete toda a trajetória de uma brinquedoteca e pede por uma solução urgente. Os resultados mostraram também que as brinquedotecas analisadas são carentes, especialmente em termos de operacionalização, os quais são concordantes com os trabalhos realizados por Magalhães & Pontes (2002). Tal semelhança pode induzir a alguma generalização, motivando esforços para a melhoria das brinquedotecas hospitalares em nosso meio.
Por outro lado, a contribuição de recursos humanos, financeiros e materiais facilitaria decisivamente para que as brinquedotecas estudadas possam atingir seus objetivos (Cunha & Viegas, 2004). O fato de ambas não contarem com profissionais devidamente preparados e remunerados constitui um fator de risco para o seu bom andamento, conforme atestam estudos (Andrade,1992; Negrine, 1997). Para Cunha (2001), o número reduzido de profissionais, ou mesmo a ausência de brinquedistas qualificados pode levar também a que alguns funcionários acumulem responsabilidades, prejudicando a prática do brincar e a troca de experiências. Considera que pode realizar-se um bom trabalho com voluntários desde que haja organização e supervisão de um profissional qualificado. Contudo, mesmo não tendo formação específica, o pessoal de ambas as brinquedotecas revelou-se disponível e acolhedor à clientela. Não foi possível estabelecer o número de usuários de cada entidade e nem seu perfil, o que deve ser investigado posteriormente.



http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1415-711X2008000100012&script=sci_arttext

Um comentário:

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